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Caribe Azul

CARIBE AZUL A PORTUGAL
Por Gilda Matos

A artista dominicana Cruz Maria Dotel cria “Caribe Azul”, uma poética visual da água nas Caraíbas. É uma obra pictórica a inaugurar-se hoje para o público de Lisboa em Portugal, com a finalidade de estreitar os laços culturais através de uma temática que une os continentes: A Água! Hoje vamos ter a oportunidade de sentir, desfrutar e pensar os múltiplos significados: estético, filosófico, social, místico e onírico que a autora atribui ao seu universo criado.

Breve História

Tudo começou com um trabalho de investigação emanada do mundo natural, quando cria a imagem do réptil em busca da vida na terra, ideia concretizada na exposição “Em Busca da Água” realizada em 1999, onde a artista marca a senda a seguir com uma temática de transcendência vital para o mundo contemporâneo, a Água!

Em 2002, o espírito inquieto e criativo de Dotel, encontrou sentido no seu caminho artístico ao revelar todo o âmbito ritual, real e transcendente da água, montando a exposição “Água Secreta” no espaço real da caverna da gruta Mainagua, onde instalou as suas pinturas e esculturas na cena natural de um lago subterrâneo com o que se converteu numa inovadora e interventora do espaço pictórico ao misturar a água mineral, real, com as águas fruto da torrente imaginativa, rememorando os ritos dos nossos antecessores, os taínos.

A sua sagacidade não ficou por aqui e estabeleceu uma ponte em 2003, olhando mais além do subterrâneo e da ilha, iniciando o seu trânsito aos mares, na exposição “Caribe in Situ”, tendo começado a plasmar nas suas pinturas as características próprias do Mar das Caraíbas.

Em 2004 apresentou a exposição pictórica “Confluências” onde abriu de forma definitiva o modo expressivo. A pintora começou a interactuar com todas as imagens e visões da água, misturando rio, lagos, mares, oceanos que confluem numa só energia; estabelece-se um diálogo intenso até chegar a um grito sem fronteiras: Água!

Caribe Azul

Todos imaginamos o Caribe tingido de cores, com sol brilhante e flores multicolores. Comummente, na imagem caribenha, supomos ver o impacte cromático da gama de cores quentes, vermelho e amarelo, porém, a artista que apresenta hoje esta exposição na Casa de América Latina imagina-o azul , “Caribe Azul”.

A criadora preferiu a cor azul para estabelecer a sua comunicação estética em toda a sua trajectória artística, talvez por ser a cor da sorte, sabedoria e a verdade divina, tal e como o refere o Livro do Êxodo 15,38, “Atem as pontas de cada ourela com um cordão azul” com o que vaticinavam sorte aos seus missionários. No nosso país, o crítico de arte César Zapata refere-se assim a esta obra: “Revelada na sua pureza. Situada no seu centro como um grande íman que atrai o olhar. A geometria do círculo e a sua carga esotérica”. Vê na sua obra um embriagador misticismo que atrai os olhos da alma que contempla o quadro.

“Caribe Azul” é uma colecção composta por 12 peças que podemos ler com os olhos da sensibilidade estética, capaz de penetrar na poética visual da água procedente do Caribe.

A arte outorga ao artista o poder imenso de tudo transformar de acordo com o seu universo, criado com a sensibilidade e o sentimento que lhe são próprios. É por isso que o olho crítico de Cruz Maria, vê o que todas e todos arriscaríamos ignorar do Caribe: O Azul nas suas conotações simbólicas: o místico, o social, o estético.

O Mar das Caraíbas é um mar muito especial, bravo, alegre e muito azul. Assim o descreve a pintora em “Caligrafia da Água”, com pinceladas soltas que nos levam por uma viagem marítima com visões e sensações idênticas às experimentadas pelos nossos emigrantes que sulcavam os mares em busca de uma vida melhor, viagem que tem como pausa o quadro “Caribe Imenso”, obra em que brinca com a sensação do movimento a partir da sensação visual.

A poética visual da autora mistura as sensações do princípio da origem universal, quando nos remete ao big-bang, e aí inclui a água como símbolo de explosão de vida. Esta imagem contrasta-se com o políptico “Separação das Águas” sequencia pictórica que evoca a sensação mística de um universo aquático transfigurado --- a agua é o mundo, o mundo é agua --- criando uma simbiose no símbolo da gota de água.

Cruz traz-nos o aspecto humano social da água através da obra “Un Peso de Água para a Dona Remígia”, instalação inspirada nos contos do grande novelista e político dominicano Juan Bosch Gaviño, que descreve as vicissitudes da mulher camponesa dominicana frente à seca, amparada no íntimo da sua religiosidade, a partir da qual a artista cria uma simbologia visual da chuva.

O desenho, a pintura, a cor, a cerâmica instalada e as linhas, formas e texturas visuais: espirais, redondas, onduladas, horizontais, constituem os elementos da linguagem visual do imaginário de uma artista das Antilhas Maiores que traz a Portugal uma poética da água denominada Caribe Azul!